domingo, 9 de maio de 2010

Medo

Morte é o medo do qual praticamente a maioria da população sofre. Essa é uma mentira da qual praticamente a maioria da população convive também. A verdade nua e crua é que há um medo maior que a maioria da população sente: o da solidão.

De nada adianta temermos a morte, pois ela é inevitável, vem para todos. A solidão é opcional. Quando digo opcional, não digo apenas sobre a solidão ruim, aquela que você plantou e logo mais colheu. Digo também daquela que vem para o bem, daquela essencial para o seu aperfeiçoamento, crescimento, amadurecimento.

A história que venho lhes contar diz exatamente sobre esse sentimento com o qual nos pegamos diversas vezes, seja onde for, e seus variados tipos.

Houve um Alguém. Este Alguém não tinha amor. Quando digo amor, me refiro àquele que faz o possuidor dele sonhar acordado, e o coração deste mesmo possuidor bater num ritmo descompassado. Apesar desta ausência dentro de si, ele não se sentia infeliz por isso. Pelo contrário, pensava que, muitas vezes, era melhor não sentir coisa alguma do que sentir algo que o fizesse sofrer, deixar aos poucos de viver pra si. Seu amor era outro. Este, infinito e incondicional, era por seus amigos.

Ele pensava que, enquanto tivesse seus amigos, nada mais lhe faltaria. Acabava, deste modo, depositando tudo o que lhe ocorria neles.

Certo dia, Alguém se viu triste. Não sabia exatamente a origem deste sentimento, só sabia que estava ali. Não contou sobre isso aos seus amigos, portanto, sem saberem da existência da tal tristeza, não puderam ajudá-lo. Isto feriu Alguém ainda mais, pois ele achava que, devido a sua devoção total e suprema aos amigos, estes deveriam sentir a presença do sentimento ruim e capturá-lo, eliminá-lo, destruí-lo.

A tristeza tomou conta de Alguém ainda mais, até que ele se viu sufocado por ela e saiu. Correu, fugiu, chorou. Correu tanto que, em um determinado momento, não sabia mais o caminho de volta. Viu-se sozinho. Sozinho por opção.

Não tinha ninguém a quem recorrer. E antes que se visse sucumbido em sua própria solidão, ele parou. Pensou finalmente no óbvio: que ninguém poderia ajudá-lo em algo do qual não tinham conhecimento; que se você preferiu ser sozinho em um aspecto, deve conformar-se com esse vazio, e não disfarçá-lo ou sobrecarregá-lo em outras pessoas, a escolha foi sua; que, mesmo em meio de muitos, você pode ainda se sentir só. Basta, então, parar, encontrar-se, e achar o caminho de volta.

Então Alguém resolveu voltar. Retomou seus passos. Reencontrou o ar do qual tanto sentia falta.

Nem sempre o silêncio diz tudo. Ele, muitas vezes, faz quem está ao redor entender que não há nada a se dizer, e você se vê sozinho. Esse é o caso da solidão opcional ruim. Se você viu-se só e não se deixou ser sucumbido por isso, buscou o caminho de volta para casa, essa é a solidão boa.

A ruim nos vence pelo medo. A boa, nos deixa vencé-la pela luta.


3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo texto. Sem palavras. Parabens e trate de escrever mais. runf.
Amo

Mayra Teixeira disse...

Uau! Que lindo!!! Texto bem escrito como sempre, cheio de sabedoria... poético... profundo...
Parabéns! ;)

Halisson disse...

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