domingo, 11 de março de 2012

Gelo

Tenho uma pedra de gelo no lugar de meu coração. Antes de se tornar o que é hoje, este mesmo coração fluía como água. Era mole. Atendia as necessidades daqueles que surgiam. Era útil, bom.

Assim como toda água é passível de desperdício, meu coração também já foi muito "usado" e jogado fora. Muitos pensaram apenas em suas necessidades momentâneas, na "sede" daquela hora. Saciaram suas vontades e partiram. Tanta gente precisando de "água" no mundo... tanta gente contentando-se com água "contaminada", impura, enquantos outros esbanjam desperdício e descaso... Por conta disso, resolvi guardá-lo no congelador. Evitar o desperdício, mantendo-o num lugar fechado e seguro.
Mas o verão chegou. As pessoas costumam abrir mais a geladeira nessa época do ano... e, numa dessas "abridas de porta", alguém me achou.

Confesso que foi alguém que eu não queria, pelo simples fato de esta pessoa já ter me "desperdiçado" antes. Agora, lá vem ela mais uma vez, sondando o congelador, porém ainda no dilema de "refrescar-se apenas com o ar frio" ou beber mais uma vez daquela água, agora pedra. 

O problema é que, por mais que meu coração ainda esteja na "geladeira", a exposição excessiva ao mundo exterior e a um abre-e-fecha constante causa derretimento.

Não sei se tenho condições de bancar um equipamento mais potente. Nem sei ao menos se quero isso. Vai ver eu queira descongelar, embora não deva. É uma época arriscada para isso, posso beirar à seca total. Já conheço o "imprudente".

Entretanto, assim como a água, vou me deixando levar. Pelos estados que as transforma e pelo desejo daquele "imprudente" que a observa.

Deveriam entender que água, assim como o coração puro, vem sendo objeto cada vez mais escasso no mundo. Amanhã você pode estar sem. Aí já será tarde demais.