terça-feira, 29 de março de 2011

Amor de criança


Às vezes, pegava-me pensando em como era bom amar quando se era criança. Não eram necessárias grandes atitudes, promessas, compromissos, nada disso. Um olhar e já era o suficiente. Um sorriso, então, era o céu. Encostar sua mão na mão dele(a), mais que o paraíso.

Não havia traições, explicações, necessidades de perdão, afirmações. Você amava e pronto, já era o bastante. Não era necessário ao menos ser recíproco. Tudo o que se desejava era um dia de, no mínimo, 48 horas. Tempo suficiente para se observar aquela pessoa, sorrir quando ela sorri, ouvir sua voz.

Hoje em dia, tudo é mais complicado. Adultos são complicados; são complicados e complicam. Erram, exageram, brigam, cobram, invejam, dificultam. Como se já não bastasse o próprio amor, que já é difícil.

Crianças veem as coisas em uma dimensão dez, vinte, mil vezes maior do que seu real valor, sua real proporção. Ela vê um arranha-céu e diz que ele é maior que o sol, maior que o universo. Nem por isso elas se assustam com o amor. Sua dimensão, sim, é maior que o universo, maior do que qualquer coisa, e nem por isso elas se deixam levar por ele. Amam. E é isso.

Pedir para voltar a ser criança não seria o certo. Seria acovardar-se, fugir de suas próprias dificuldades. Ela ainda está dentro de nós, só precisamos encontrá-la, deixá-la reinar novamente. Deixá-la amar.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Devaneios de uma semana imperfeita

Ao subestimar uma pessoa, lembre-se de que, caso ela consiga provar o contrário, você será o primeiro a saber.

Não peça alguém que te complete, e sim alguém que some contigo.

As pessoas dizem “nunca”, esquecendo que a vida é bem maior e mais longa do que se imagina.

Duas expressões consideradas as mais faladas: “nunca faria isso” e “quem diria...”.

Você só aponta nas pessoas aquilo que você bem conhece.

Comodismo: querer algo e esperar que algo ou alguém o alcance para você.

O ser humano nada mais é do que um intermediário do racional e do irracional.

Você não pode exigir que a vida lhe dê oportunidades se você não dá abertura para tal.

Não tenha inveja de quem ama e é feliz; fique feliz por saber que existe amor sincero e que, um dia, ele pode alcançar a ti também.

Sonhos parecem ser inatingíveis a partir do momento que você não compreende que eles são vencidos pela persistência.

Palavras ditas com muita facilidade significam que foram pensadas.

quarta-feira, 2 de março de 2011

O caminho

Snow Patrol - Run by user72918

Há alguns dias, resolvi sair de onde estava. A princípio, senti um frio, uma insegurança que não cabia dentro de mim. Tudo parecia grande demais. Já não tinha mais onde me apoiar, as paredes que me sustentavam agora estavam distantes. O que eu tinha era apenas a imensidão do mundo. Digo “apenas” de forma irônica e antagônica, já que, como já foi dito em um seriado famoso, “existem seis bilhões de pessoas no mundo, seis bilhões de almas”.

Andei vagamente, sem destino ou sentido, apenas procurando algo em que me apoiar, um rosto (conhecido ou não), a minha metade emocional perdida. Nada via. Mais uma vez, apenas a imensidão do mundo.

Exausta, quase desistindo, encontrei alguém. Vinha na mesma direção, aparentemente buscava o mesmo que eu. Possuía o mesmo olhar de dúvida, de insegurança. Mostrava-se indiferente, distante, vai ver pelos meus mesmos motivos já apontados no texto anterior.

Era lindo. Vinha balbuciando algumas coisas que, ao mesmo tempo em que poderiam soar sem sentido para algumas pessoas, eram as mais compreensíveis. Logo pensei: “Meu primeiro contato aqui fora não poderia ser melhor”. Encantei-me, deixei-me levar por aquilo que eu só via do meu cômodo e claustrofóbico lugar recém-abandonado.

Sorri. Parecendo reparar naquilo, ele sorriu de volta. Pareceu reparar até em mais. Sem querer pensar em mais nada, fui ao seu encontro. Mas ele não. Continuou seguindo firme em direção a algo que eu não percebi, algo que eu deixei passar.

Tentei gritar, chamar sua atenção. Não posso afirmar se ele ouviu e preferiu seguir em frente ou se simplesmente não ouviu nada. Só sei que aqui estou, no meio do caminho, sem saber se sigo em frente ou se volto ao seu encontro. Acho que, no fundo, eu tenho a resposta, mas ainda não me livrei totalmente de meus fantasmas da comodidade.

Só sei de uma coisa: neste momento, ele deve estar algumas milhas à minha frente, porém isso parece não me importar. Penso em correr.

terça-feira, 1 de março de 2011

Comodidade

Há tempos não saio de dentro de onde estou. Daqui, tenho uma visão bem ampla, bem abrangente de todos que por essas bandas passam. Por observar tudo, sempre procuro ajudar aqueles que, do outro lado, não conseguem enxergar o que eu enxergo. Confesso que sou bem útil, até. As pessoas acabam recorrendo a mim, buscando em mim um refúgio para seus percalços.

Onde estou é bem cômodo. Aqui só tem espaço para mim, mais especificamente para o meu lado racional. O sentir não entra.

Sem espaços para sentimentos implica, consequentemente, na inexistência de ilusões, desilusões. Isso não é de todo ruim. Será?

Se aqui é tão bom, por que ninguém quer entrar? Por que ninguém quer um espaço igual a este? Por que essa necessidade de sentir das pessoas, de sofrer, sim, mas levantar para, logo em seguida, partir para outra, para uma nova?

Pensando bem, essa comodidade está se tornando cada vez mais claustrofóbica, mais solitária. Como falei, já estou aqui há muito tempo, mais um pouco e eu ficarei atrofiada, paralisada. Sem minha metade emocional e paralisada.

Vai ver esteja na hora. Vai ver eu queira sair daqui.