quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sentença

Pena de morte: sejam quais forem os motivos que levaram o condenado a merecê-la (ou não), trata-se de uma sentença que ele tem que conviver até seu último dia. Embora seu objetivo final seja terrível, não é exatamente a morte o maior desafio dessa pena; o maior desafio, a maior dor, o “barato” da coisa é justamente o período anterior à morte. É ter que conviver com esse futuro marcado até o seu último dia. A maior pena é a morte lenta do espírito, do psicológico, até chegar a vez do corpo.

Fui condenada a um futuro indesejado, a um sentimento não recíproco de outrem. Porém, ele não se anuncia por imediato, ele me corrói, dia após dia. Como se tivessem enfiado uma estaca em meu coração e, todos os dias, cutucassem a ferida com força, fazendo com que ela jamais se cicatrize.

Todos os dias, rezo para que a “morte” chegue logo, para que o luto seja completo e que eu não precise sofrer em prestações. Para que eu não precise mais chorar todos os dias. Para que eu possa encontrar minha paz.

Mesmo assim, insistem em me sentenciar, em me fazer passar pelo mesmo corredor, receber os mesmos olhares, a mesma dor.

Muitas vezes, os responsáveis pela sentença, rindo dos réus feridos psicologicamente, anulam a pena de morte meses, dias, horas antes do “dia do juízo”, pois já viram humilhação suficiente. Convivo, portanto, com essa esperança, a única entre tantos desejos uma morte total e imediata.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Indiferença

Muitos dizem que o contrário do amor é a indiferença, e eu concordo com isso. Com o ódio, assim como com o amor, há um sentir, mesmo que aparentemente negativo. Digo aparentemente, pois, pra mim, ódio nada mais é que um gostar enrustido.

Pergunto-me o que faz uma pessoa chegar ao estágio da indiferença, o não sentir de fato. O que leva uma pessoa a ter esse vazio, esse oco em relação a seja lá o que for. Como se tivesse tomado uma anestesia geral, porém continuasse acordado. Como se estivesse inerte.

Sinto que isso não é normal. Como não sentir a presença do vento, do Sol, da chuva? Como ver alguém e não sentir sua presença, uma empatia, ou até mesmo antipatia? Ou pior, como desenvolver a indiferença por algo ou alguém por que ou quem já sentiu algo antes? É possível?

Não quero descobrir. A você, que consegue dominar “isso” (não ouso chamá-lo de sentimento, pois não o há), não invejo, não desejo adquirir a mesma habilidade. Pelo contrário: é essa sua indiferença que me faz querer ser diferente de ti.