quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Reciprocidade

Não é de hoje que eu digo que as pessoas pensam muito nelas mesmas. Pensando bem, não seria bem esse o termo. As pessoas são... sedentas por reciprocidade. É, reciprocidade é o que eu estava procurando.
Comecei a me dar conta disso, acreditem se quiser, em uma aula de inglês. Meu professor e eu estávamos conversando sobre um tema qualquer, e este tema nos levou a uma certa situação. Ele perguntou se, por exemplo, quando eu dou um presente a alguém, eu o faço de coração ou na expectativa de também ganhar um presente num futuro próximo. Instintivamente, respondi que presenteava aqueles que eu considero de coração, claro. Tão instintivamente quanto eu, ele riu de minha resposta. Disse que damos, sim, um presente com o coração, pensando no quanto aquela pessoa ficará feliz, mas, caso o nosso aniversário chegue, por exemplo, e este mesmo amigo nem ao menos lembre de você, não dê uma satisfação, não explique os motivos de não ter dado um presente, assim como você fez no dia dele, você certamente ficará um tantinho frustrado. Você, mesmo que inconscientemente, contou com aquele mesmo gesto no futuro. Não o mesmo, mas, no mínimo, parecido. Uma certa consideração, digamos.
No amor, também suplicamos pela reciprocidade. Quando dizemos "Eu o amo sem pedir nada em troca", essa frase não passa de um trecho poético... e mentiroso. Duvido que você pense da mesma maneira quando vê aquela pessoa que tanto ama com outra, sabendo do que você sente por ela. Duvido que o seu "Ele estando feliz, estou também" saia 100% verdadeiro. Duvido que, em algum momento, você não chore ou ao menos pense " Eu o perdi para sempre".
Até mesmo quando soltamos um "Nossa, ele não deu nem um 'obrigado'!", é a tal da reciprocidade pulsando em nossas veias.
Falando assim, parece até algo ruim, um defeito, não é mesmo? Porém, já penso o contrário, que tem, sim, sua virtude. Se você não pensar no seu lado, quem o fará? Quando pensamos demais nas pessoas, isso nos tacha automaticamente como disponíveis o tempo inteiro. Como aquela pessoa que não se importará em não receber um "obrigado" uma vez ou outra, por exemplo. Aquela que sempre estará ali para ouvir, sem necessariamente ser ouvida. "Ela faz isso o tempo inteiro mesmo, não é? Não se importará em não ouvir isso uma ou duas vezes." Acontece que, com o tempo, esse "uma ou duas vezes" se torna um "nunca".
Acontece que a reciprocidade entra aí também, e é aí que muitos que, no início do texto, não concordavam comigo começarão a entender. Um dia, essa mesma pessoa que antes estava 100% disponível para você perceberá que não está sendo valorizada o quanto deveria, e tratará a você do mesmo modo que você a trata. Uma pessoa, ao perceber que não está sendo correspondida, acaba tocando o barco e partindo pra outra mais cedo ou mais tarde. Uma pessoa se cansará de apenas "lembrar" e não "ser lembrada". Direito dela, certo? Ela só está se valendo do direito dela de ser "recíproca". 
Afinal, como eu já disse em um dos meus textos, ela é "legal, mas não estúpida".

1 comentários:

Itana Glésia disse...

A tal da reciprocidade, venho pensando muito nisso nos últimos dias, meses. As vezes as confundem o fato de você ser legal, presente, amiga com ser idiota, que não precisa de um obrigado, um pedido de desculpas pelo menos. O tal do dar sem esperar nada em troca é muito bonito, nos livros, no cinema, mas na prática a realidade é outra. E o pior é que ser legal acaba sendo uma obrigação, quando na verdade não é. Mas vivendo e aprendendo, reciprocidade é o novo uivo do verão, e pra mim será uma regra daqui pra frente. Lindo texto querida, falou e disse.

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