segunda-feira, 16 de maio de 2011

A Droga

Olá. Não farei grandes apresentações de quem eu sou, nem direi que tenho ou tinha um problema. Se eu me apresentar, irei me parecer com aqueles membros de Problemáticos Anônimos. Já vejo todo aquele diálogo patético: “Olá, meu nome é Fulano (todos em coro: ‘Olá, Fulano!’) e eu fiz isso, aquilo e o diabo”. E não direi que tenho ou tinha um problema por questões óbvias. Claro que tenho um problema, se não tivesse, não estaria aqui, podem ter certeza.

Não sei ao certo quando tudo começou. Acho que nem dá para saber, é meio inconsciente. Se você tivesse noção realmente do que estava prestes a fazer, escolheria não fazer, simples assim. Sei, sim, quando comecei a me dar conta de que isso estava me consumindo, me sufocando, me matando.

Estava no ápice da loucura. O barato me consumia, me cegava. Amigos deram indícios de que eu estava fora de mim. Eu, covarde, só chorava. Chegou uma época em que os choros não amoleciam nem convenciam mais ninguém, pois de nada adiantava chorar se, pouco tempo depois, eu voltava a fazer tudo de novo. Começaram a se afastar de mim: amigos, amores, oportunidades, tudo. Estava completamente só. Chorava, mas, dessa vez, não tinha ninguém mais para me amparar, passar a mão na minha cabeça. E foi aí que percebi que estava fazendo merda.

O primeiro dia após a tal “conformidade” foi extremamente difícil. Coloquei na cabeça que não seria mais aquela pessoa novamente, mas, vira e mexe, pensava em como seria mais fácil se as coisas continuassem como estavam. Reformulando, em como seria mais cômodo se as coisas continuassem como estavam. Assumo, sou bunda-mole, mesmo, queria tudo na mão, que as coisas se resolvessem sem que eu ao menos mexesse o meu traseiro estúpido de minha cadeira.

Queria que sentissem dó de mim, que, ao primeiro ar de sumiço, viessem me ligar e me abraçar, perguntando se estava tudo bem, e que aquilo não iria acontecer novamente. Que ridículo. Olhando agora, é tudo tão ridículo! Fútil, infantil, presunçoso, nojento, humilhante, até! Se, toda vez que alguém tiver um problema, outra tiver que passar a mãozinha em sua cabeça, ninguém trabalha, ninguém faz nada, só vive em função dos outros.

O que estou tentando dizer é o seguinte: só consegui me dar conta de que tinha que resolver esse problema quando percebi que EU tinha um problema, e que não era ninguém que o resolveria para mim. Por mais que os amigos digam que você tem algo de errado, algo que precise melhorar, se VOCÊ não se der conta disso, se VOCÊ não olhar para si e dizer “É, ele tem razão”, de nada adiantará.

Hoje, estou bem. Para um começo, ou melhor, um recomeço, estou bem. Ainda há aqueles momentos de fissura, não vou negar. Mas eles estão diminuindo a cada dia. Estou fazendo um favor para mim, estou fazendo um favor para os outros. Estou voltando a enxergar novamente, notando, agora, que era aquele choro mimado e ridículo que me cegava. Em sã consciência, tudo faz sentido.

Portanto, digo, não só para quem estiver aqui e ainda não encontrou a solução para seu “vício”, mas para todo o mundo: vocês não estão perdidos; só não se encontraram ainda. Faça com que a solução parta de você e de ninguém mais. É o único caminho para a cura de qualquer mal. Não implore pela compaixão de ninguém, ela só deixa transparecer sua fraqueza. E não desista de sua busca. A busca da verdade, da bondade, daquilo que você já foi e que nunca deveria ter abandonado. O planeta é imenso, mas finito. O que você procura há de estar em algum lugar.

Obrigado.

*

E quanto a você? Qual é a sua dependência?

2 comentários:

Itana Glésia disse...

A reposta sempre esteve e estará em nós, cabe-nos ter coragem pra descobri a resposta, Um desabafo SEU que pode ser MEU, que pode ser NOSSO, que pode ser de TODOS, cheio de poesia. Lindoooo texto. =)

Mayra Teixeira disse...

Caraca, miss, esse texto me lembrou uma música da Tegan and Sara (você perguntou qual era o meu vício, tá aí! Mas esse é um do qual NÃO pretendo me livrar, você entende!), chama-se "The Con", se puder escute ou leia a letra e você verá a semelhança com o que escreveu.

Quanto ao texto, amei! A forma como escreveu, bem coloquial, leitura fácil, conteúdo poético. Você me inspira! (prontofalei!)

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