Até mesmo as mentes mais “racionais”, em um momento de descuido, pegam-se em indagações, questionamentos e imaginações de diversas situações.
Em diversos momentos, minha mente já se perguntou: “E se...?”. Ele pode ser tanto um herói, uma espécie de “profeta do bem”, quanto um bandido, um “destruidor dos corações das menininhas indefesas”.
Ele pode ser um otimista nato: “E se eu passar naquela entrevista? E se aquele relacionamento der certo? E se eu conseguir o que quero?”.
Porém, ele também pode ser um pessimista incorrigível: “E se não der certo? E se for um fracasso total? E se eu não conseguir?”.
Fato é que, em doses exageradas, seja de que lado ele estiver, o “e se...?” faz mal; ora ilude demasiadamente, ora cria uma pessoa sem expectativa nenhuma de que algo bom vá acontecer em sua vida.
A história que vou contar a seguir exemplifica um caso, digamos, clássico de “e se...?”. O caso pode ser definido como “uma manobra não planejada acerca de um fato menos planejado ainda”.
Havia essa garota que não tinha muitas expectativas para o futuro. Possuía um emprego medíocre e uma vida amorosa também medíocre. Como toda mãe zelosa, a dessa garota também cobrava melhorias em diversos setores de sua vida. “Filha, você é inteligente, pode correr atrás de um emprego melhor, em que você ganhe mais” pra cá, “Quando você trará um namorado pra esta casa, hein?” pra lá. Apesar de sentir-se incomodada com as perguntas, ela não reclamava. Não mais. Talvez porque ela já estivesse acostumada com tudo aquilo. Anestesiada, conformada.
De repente, um fato resolve quebrar sua rotina. Uma pessoa nova entra em sua vida. A princípio, nada muda. “É apenas mais uma pessoa que, assim como eu, não possui grandes ambições e expectativas”, ela deveria pensar. Um detalhe, nesse pensamento, é certo: “(...) assim como eu”. Assim como ela. Era alguém igual a ela.
Há tempos ela não encontrava alguém tão semelhante. Alguém que tinha os mesmos hábitos, gostava das mesmas coisas, partilhava das mesmas opiniões. Apesar das coincidências, essa garota procurava manter os pés no chão e não “viajar na maionese”. Ela só não contava com o fato de esse tipo de “controle” não durar muito. O tempo foi passando e as coincidências só foram aumentando, à medida que ambos foram se conhecendo melhor. As risadas eram mais frequentes. Cada vez mais detalhes de suas rotinas eram compartilhados. As conversas tornaram-se diárias. Telefones e demais contatos foram trocados.
Chegou-se a tal ponto que qualquer tipo de pensamento tinha de ser compartilhado, simplesmente para puxar conversa, ter aquela “cota diária de sua presença”. A partir daí, essa garota começou a pensar em considerar esse tipo de comportamento uma evolução para um “e se...?”. “Ele é tão parecido comigo, tão... eu! Parece estar na mesma vibe em que estou em relação a tudo isso. E se... Bom, deixa pra lá.”
Tarde demais, garota. Uma vez plantada a sementinha do “e se...?”, mesmo não a expondo abertamente, ela só tenderá a crescer.
Finalmente, chegou o momento em que nossos personagens decidiram se encontrar pessoalmente. Aí, não tem jeito. “E se eu não for o que ele imaginava? E se algo mudar daqui pra frente? Mas, espera aí... e se eu for, sim, o que ele imaginava? E se algo mudar para melhor daqui pra frente? Calma, calma, ainda não aconteceu nada.”
Por que é tão difícil controlar um “e se...?”? Ele cresce e comporta-se como uma trepadeira, vai te envolvendo até você dizer: “Tá, eu me rendo!”. E foi o que aconteceu com essa garota. Creio que com o garoto também. Um caso de aceitação mútua do “e se...?”. Porém, observa-se que sua aceitação foi um pouco tardia. E, aí, chegamos ao ponto interessante: não foi tardia; aconteceu na hora certa.
O resultado? Um caso de “e se...?” bem-sucedido. Um caso de um “e se...?” que se transformou em “e é”. E é lindo. E não tem como ficar melhor.
P.S.: História baseada em fatos ultrarreais.