Eram 11 horas da manhã. Ela calçara seus chinelos e fora, tateando, em direção ao banheiro. Chorara muito na noite anterior pensando em sua vida e em que ela estava se transformando. Quando digo "ela", refiro-me à vida. E à pessoa em questão também, por que não? De tanto chorar, seus olhos amanheceram inchados e ela mal conseguia abri-los, por isso seguiu tateando em direção ao banheiro.
Chegando lá, lavou seu rosto e escovou os dentes. Até então, ainda não havia se olhado no espelho. Talvez por ainda não conseguir abrir seus olhos. Talvez por ainda não querer encarar a si mesma de frente, e enxergar em que havia de fato se tornado.
Passaram-se uns quinze minutos até ela finalmente decidir ver seu reflexo. O reflexo da decepção, derrota, vergonha, frustração. Antes de pensar em chorar novamente, disse, como que ensaiando diante do espelho para um discurso ou uma peça de teatro da qual fazia parte: "A partir de hoje, serei outra pessoa. Terei uma vida nova, farei tudo diferente. Abandonarei velhos e inúteis hábitos, darei valor às coisas mais simples da vida, tentarei resgatar aquela menina que eu sempre fui. Aquela que não fazia questão de nada disso de que julgo precisar hoje. Vai ver era isso: vai ver eu precisava estar quase diante do abismo para me dar conta do que é realmente importante. Pois agora creio que esse momento chegou".
Ditas aquelas palavras, esboçou um sorriso. Aquilo soara como um recomeço para ela. Com aquelas palavras vieram também muitas ideias e planos, por isso tratou de correr e pegar seu caderno e uma caneta. Começou a anotar tudo o que gostaria de fazer, aquilo que tanto queria resgatar. De uma hora para outra, ficou radiante. Tinha até se esquecido do que vira no espelho há algumas horas e do que havia acontecido no dia anterior.
Pronto. Seus planos estavam todos ali, naquele caderno. Tudo o que julgava importante estava ali. Quer dizer, quase tudo. Sentia, apesar de tudo, que estava se esquecendo de alguma coisa, mas não sabia bem o que era... Largou o caderno em cima da mesa de cabeceira em seu quarto e pensou: "Uma hora eu me lembro".
Horas depois, lá estava ela, aprontando-se para o mesmo de sempre. Mais algumas horas e lá estava ela, novamente no fundo do poço. No dia seguinte, lá estava ela, novamente de olhos fechados diante do dolorido espelho da verdade. E lá estavam os planos, as ideias, mas ainda assim faltando alguma coisa.
A história é um círculo, se repetirá ainda por muito e muito tempo. Só se desencadeará quando ela finalmente descobrir o que faltava em sua lista: EXECUTAR.
3 comentários:
Você está escrevendo a minha história, miss? Mas é bem isso mesmo. Acordei e descobri o que faltava: EXECUTAR!!! E é justamente isso que estou fazendo! Ótimo texto, como sempre. Profundo! Adoro os seus textos!
Vou descordar de você!
Acredito que "Executar" era um dos grandes sonhos dela, pois, se estamos dispostos a mudar, significa automaticamente que estamos querendo executar nossos sonhos.
O seu grande problema não foi o "Executar", mas sim, se deixar levar pela a rotina...
"Só se desencadeará quando ela finalmente descobrir o que faltava em sua lista: EXECUTAR." Não gosto de você e muito menos nos seus textos, nojentos. Bgs
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