Algo estava ali. Era tímido, discreto, conformado. Quase ninguém o notava.
Ele era bom, era sim. Era reconhecido por isso, mas só, nada além disso.
Sempre colocava tudo e todos à sua frente. Tudo e todos, inclusive ele mesmo.
Observava de longe o sucesso e a vitória alheias, estes que lhe deixavam extremamente feliz. Sua felicidade baseava-se no fenômeno da osmose.
Ele nunca se importou em ser assim, a conveniência o tornou do jeito que sempre foi. Afinal, o que não incomoda (até um certo ponto), mesmo não sendo bom, dificilmente é mudado.
Ele nunca se importou em viver nas sombras. Nunca se importou em observar tudo à distância. Nunca se importou em ter seu nome trocado, em não receber os devidos créditos por seus feitos. A viver ali. Sim, ele está ali, não vê?
Até que um dia alguém o encontrou. Ele estava ali, seco. Precisando de alguém que realizasse a osmose em seu lugar. Molhado, só de lágrimas, o que o tornava cada vez mais sedento e seco.
Ele era cego também. Como ninguém percebeu? Também pudera, não se enxerga com facilidade algo que está tão escondido, tão discreto... algo que não faz questão de ser encontrado... ou que aparentava não fazer questão.
Todo esse tempo e ele estava ali.
Nem precisava de muito para encontrá-lo, estava bem em minha frente... com uma placa em punho, com os dizeres “encontre-me”.
Obrigada, espelho, por me fazer enxergar. Coração, precisa de mais alguma coisa?