Moda é um trem complicado. Ao mesmo tempo que ela dita tendências e insere as pessoas na sociedade, ela, muitas vezes, robotiza os indivíduos, fazendo-os que pensem que devem ser iguais a todo mundo, independentemente de concordarem ou não com o que “deve” ser seguido. Esse tipo de comportamento está inserido não somente na forma de se portar, de se vestir, mas também na maneira de agir e de pensar.
Hoje em dia, com o acesso deliberado à internet e a capacidade de “conhecermos” as pessoas sem ao menos tê-las visto pessoalmente, além da tentativa de “liberdade de expressão” – de querer afirmar, a todo momento, que “fala o que pensa” e o que quer –, pensamentos cercados de modismos circulam pela rede, ditando, de forma mascarada, o que é certo e o que é errado e fazendo que todos sigam o embalo rumo à bitolação. Determinadas frases não saem mais da boca – ou, no caso da internet, dos dedos – das pessoas com sinceridade. Não se sabe mais o que é a opinião de alguém e o que é simplesmente uma cópia de um pensamento já revelado anteriormente, reproduzido apenas com o objetivo de ganhar mais seguidores em direção à verdadeira simulação do filme “Tempos Modernos” (quem nunca assistiu a ele, assista!).
Por exemplo, uma frase que eu ando lendo muito por aí é a tal da “Gosto de ver as pessoas felizes. Gente feliz não enche o saco”. Ok, ela pode estar certa – pessoas felizes realmente tendem a cuidar mais de sua própria vida, pois estão ocupadas demais... sendo felizes! –, mas por que alguém tem de se dar o trabalho de revelar isso ao mundo, se não é por pura inveja dos seres contentes? Por que fazer tanta questão de se importar com elas? Afinal, elas estão felizes, certo? Pra que uma afirmação tão grosseira? Eu a encaro como algo do tipo “Vá, seja feliz, fique aí, curtindo seu momento único na vida enquanto eu estou aqui, querendo saber tudo o que você faz, sentado em meu sofá e tentando mascarar a minha vida medíocre”. Dá a entender que as pessoas que a proferem estão tremendamente insatisfeitas com a alegria alheia, esperando que, na primeira oportunidade, algo dê errado a quem está bem e este venha correndo pedir colo. Daí, não sobra alternativa ao invejoso a não ser dizer algo como “Bem-vindo ao clube”, para se sentir menos miserável e pensar que tem alguém no mundo em situação tão ruim quanto a dele.
Outra moda é discordar de quem quer que seja, de qualquer assunto, de qualquer opinião. Um simples “odeio o calor” já é quase motivo para uma Terceira Guerra Mundial. Chuva de comentários sobre o quão ridículo o dono da afirmação é por falar tal coisa inunda qualquer lugar, isso sem contar os comentários posteriores, em dias de frio, de gente falando “A você que pediu frio, se reclamar, apanha” e coisas do tipo.
Nem cito questões políticas e religiosas. Gente que tem um determinado credo ou opinião – ou não tem nada – e nem sabe por quê, não procura ir atrás, entender o que defende a tal ponto de arrumar brigas, conflitos e inimizades.
No final das contas, tudo é com um único objetivo: chamar atenção. Ganhar confete. Ou até tomate, contanto que prestem atenção e esbocem alguma reação ao que foi dito. Afinal, moda é isso, né? Quando você vê uma Lady Gaga da vida vestida de carne, a primeira coisa que a maioria diz é: “Nossa, que estranha, pra que ela está usando isso? É horrível!”. Alguns podem até achar legal e concordar com o conceito dela, mas, no fim, o que se ouve é quase unânime: “Ela quer aparecer”. Opinião (se é que podemos chamar assim hoje em dia) tornou-se mais ou menos isso: você ouve, finge que absorve, finge que é sua e lança por aí, mesmo sem concordar muito com ela. Supertendência!