Creio que uma das coisas mais assustadoras de se ouvir de alguém (além de um “Estou grávida” ou coisa do gênero) é um “Você mudou”.
Todos já ouviram essa frase alguma vez na vida, em contextos diferentes, com conotações diferentes. Ela vem acompanhada de diferentes indagações, como “Você está mais magra/gorda”, “Você mudou o cabelo”, “Você cresceu” ou “Você não é mais como antes”.
Esta última tanto pode machucar quanto fortalecer a pessoa a quem a frase é direcionada, tudo é questão de como você encara o que o outro chama de “mudança”.
Em que consiste a mudança? Em que implica um “Você não é mais como antes”? Consistiria num “Você não é mais submissa a mim e aos meus caprichos”? Ou num “Você não vive mais somente em minha função”?
É difícil para as pessoas entenderem que as outras mudam. Caso contrário, todos nós ainda estaríamos engatinhando com mamadeiras na boca e submissos em relação às necessidades básicas de nossas vidas. Por conta de uma atitude ou um gesto diferenciado, passamos a enxergar coisas que antes não conseguíamos. O que antes nos fazia chorar hoje é indiferente. Quando um “Você mudou” vem envolto neste sentido, é sempre relacionado a algo ruim. Para quem proferiu. Simplesmente por estar perdendo todas as comodidades que as mantinha no topo, por estar perdendo o posto de dono da verdade e supremacia absoluta, acha que, lançando uma dessas para alguém, o destruirá. Nestes casos, o que resta a fazer é proferir um sincero pedido de desculpas, acompanhado de um “mudei, sim”. Para a evolução do mundo. Para a alegria de uns. E para a tristeza de outros, afinal, não se pode agradar a todo mundo. A mudança sempre ocasionará no deslocamento de um modo de agir, na alteração do status quo. Quem sentir que sua comodidade foi roubada, violada sempre irá contra-argumentar. Sua mudança será, finalmente, concretizada quando você simplesmente deixar para lá.