quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

14 de fevereiro

No texto anterior, além de expor minhas revoltas de costume, também disse sobre o quanto é difícil para eu escrever quando estou sentimentalmente bem, feliz. É como se as ideias simplesmente não se encaixassem, ou não quisessem se encaixar. Como se a mente não processasse de forma linear, como se ela quisesse contar, ao mesmo tempo, tudo o que se passou por ela. Tudo isso somado ao meu medo, como eu disse no texto anterior, de soar muito piegas ou clichê. Cheguei até a pensar na possibilidade de me esforçar mais para postar algo bom num futuro (quem sabe) próximo, “sem medo de ser feliz”. Pois acho que esse dia chegou. Portanto, se você espera um texto argumentativo, com requintes de debate, acidez e filosofia, peço para que pare de ler desde já. Por mais coração-gelado que alguém seja (ou venha a ser com o tempo), todos já ensaiaram em algum momento de sua vida uma declaração de amor ou já sonhou estar com alguém de quem um dia já gostou muito, mesmo que esse alguém fosse um amor platônico. Lembro que, quando era menina (lá pelos meus 13 anos), escrevi uma carta de amor endereçada a um artista que eu era vidrada. Dobrei a carta como se fosse um aviãozinho de papel e joguei pela janela, na esperança de que a declaração chegasse um dia nas mãos dele. Pensamento mais inocente (e até ousado, digamos) que esse, impossível. Durante muito tempo, pensei que esse seria o mais perto que eu chegaria de alguém de quem eu gostasse. Pensamento mais pessimista (e também ousado) que esse, impossível. Seria um pensamento bem dramático se isso de fato não tivesse acontecido durante um bom tempo em minha vida. Nunca fui uma pessoa bem-sucedida em meus relacionamentos. Meus relacionamentos. Bah. Falo como se tivesse tido vários. Na verdade, não tive quase nenhum, apenas tentativas. Nem isso. Apenas devaneios, platonices que não passaram disso. Costumava dizer que não tive amores, tive pragas, pois tudo o que eu mirava ou pensava na possibilidade de acontecer um dia já dizia por si só que não era bem assim. Já tratava de tirar as esperanças logo de cara. O que não deixa de ser bom, pois o sofrimento é menor. Porém, dizem que as melhores coisas vêm nos momentos mais inesperados. Apesar de ouvir isso durante toda a minha vida, em diversas situações, principalmente naquelas em que você está mal, desesperançosa com a vida e com o próximo, nunca dei ouvidos. Acho que justamente por isso. A sensação é sempre de que estão falando isso para fazer com que nos sintamos melhor de alguma forma. E às vezes é mesmo. Como dizem por aí, as pessoas deprimidas são “chatas”, batem sempre na mesma tecla e contaminam todos com sua tristeza, então por que não tentar fazê-las se sentir melhor para que elas parem de encher o saco? Sempre dava conselhos sobre coisas das quais nunca tinha vivido, experiências de relacionamentos pelas quais nunca passei. Mas, de certa forma, ajudava. Estava acostumada a ser a psicóloga, a sempre ajudar e nunca ser ajudada. Não por falta de vontade dos meus amigos, mas por falta de experiência minha. Como eles iriam ajudar se eles não tinham o que ajudar, como ajudar? Hoje, ainda não tenho ajuda de ninguém, mas não porque ainda não tenho experiência ou porque as pessoas não têm como me ajudar. Simplesmente porque eu não preciso de ajuda: tenho a melhor pessoa que alguém poderia sonhar em ter ao seu lado. Alguém que não te dá trabalho nenhum, a não ser amá-la (o que, portanto, não é trabalho nenhum, apenas prazer). Alguém tão parecido com você que às vezes tem a impressão de que se trata de uma única alma habitando dois corpos. Alguém que parece ter aparecido em sua vida para “vingar” todas as suas frustrações e infortúnios já vividos. Alguém a quem você consegue arriscar dizer ou atribuir sem pensar um “pra sempre”. Apesar de não ser uma comemoração brasileira, sinto-me na obrigação de escrever tudo isso. E agradecer por ter esse alguém a quem eu possa chamar de “valentine” com toda a convicção do mundo. Quem disse que eu nunca proferiria um “eu te amo”? Quem disse que você nunca proferirá um “eu te amo”? Um dia, você ainda também ousará dizer que não tem palavras ou linearidade suficientes para dizer que é feliz.