– “Querido amigo,
Como você está? Desculpe-me por minha vasta ausência, é que você sabe como é, estive namorando durante esses últimos meses, era uma correria só. Agora estou só, meio abatido, na verdade, mas levando a vida.
Vamos marcar de sair um dia desses, conversar, botar as fofocas em dia. Faz muito tempo que não fazemos algo assim, não é mesmo?
Saudades.”
– “Caro amigo,
Quanto tempo sem ter notícias suas! Estou bem agora, e você? Sinto muito pelo término de seu namoro, espero que as coisas estejam melhores agora.
Notei sua ausência, afinal, não obtive respostas de minhas mensagens nem consegui retorno de minhas ligações. Mas entendo, vida corrida.
Acima, disse que estou bem agora. Como você esteve ausente, vida corrida, explico-lhe o que ocorreu: estive em um dos meus piores momentos de toda a minha vida. Via-me em um poço sem fundo, sem saber como retornar à superfície viva e feliz. Estendia a mão, mas nada via. Tentava um telefonema, ouvir uma voz amiga, mas não obtinha resposta. Via-me só. E sabe o que mais me doía? Lembrar que, em tempos passados, eu teria passado por essa mesma situação com os pés nas costas, pois eu teria um amigo. Ele, certamente, não faria nada para me ajudar. Quando digo “nada”, quer dizer nada muito previsível, como emprestar dinheiro, por exemplo. O mais valioso e importante, porém, ele faria: estar ali, simplesmente. Ouvir-me, olhar nos meus olhos e dizer que iria ficar tudo bem, que tudo aquilo iria passar. Que me amava, e que estaria ali pra mim.
No entanto, essa situação me fortaleceu, além de me fazer encarar melhor certas situações. Fez-me pensar também. Um desses pensamentos eu irei expor a ti:
Existem três tipos de amores: o amor de família, o amor de amante e o amor de amigo.
O amor de família é aquele quase que imutável. Está no sangue, corre nas veias. Por mais que digamos que odiamos um pai, ou que detestamos o jeito que a mãe nos trata, ou ainda que não suportamos o modo como nossos irmãos agem, eles estão lá dentro, dentro de nós. Em um momento mais difícil ou até mesmo quando eles se vão, você percebe o quanto eles são indispensáveis à sua vida, e que um vazio como esse jamais será preenchido do mesmo modo.
O amor de amante é aquele arrematador, que chega e cega e possui e muda e faz acontecer. Aos poucos (com o tempo, ou com o comodismo, talvez), os pés vão voltando ao chão, a vista fica menos turva e você volta a enxergar o mundo com os olhos de antes. Com olhos de amor sincero.
Amor de amigo é o tal do amor sincero. Quando a situação está difícil para você ou sua família, ele está lá. Quando você briga com o (a) namorado (a), marido (esposa), se desentende com o ficante, ele está lá. Quando você ameaça não enxergar a vida com os mesmos olhos de antes, ou até mesmo não enxergar mais nada, ele está lá. Ele é a mão da superfície do poço.
Sendo assim, não fica difícil saber a ordem dos amores em nossas vidas. O amor de amigo, definitivamente, é o mais próximo do amor de família. Em alguns momentos, até mais forte, pois, como já ouvimos falar por aí, amigos são os irmãos que escolhemos. O amor de amante é o mais “fraco” da cadeia, pois ele esfria. Acomoda-se. Muda. Te muda.
O fato de reerguer-me sozinho não significa que perdi um amigo. Pelo contrário, aprendi a deixá-lo ir e aprender uma lição sábia: a de que não se deve subestimar um amor de amigo por uma chama de amante. Afinal, o amigo sempre estará lá, em todos os momentos.
E é por isso que estou aqui. Estou aqui para você.
Vamos marcar de conversar, sim. O mais rápido possível, pois vejo que você precisa de ouvidos e uma mão para te reerguer.
Saudades,
Te amo.”